Você nem imagina, mas está cercado de alimentos hiperpalatáveis. Descubra quais são eles e por que “é impossível comer um só”.
“É impossível comer um só”! “Uma explosão de sabores”! Essas são apenas algumas das poucas mensagens usadas para vender produtos alimentícios.
Sabemos que essas mensagens fazem parte de uma estratégia de marketing, mas será que são apenas realmente isso?
Na verdade, não. Os alimentos hiperpalatáveis são realmente feitos para que você não consiga comer um só porque provocam uma explosão de sabor no organismo.
Portanto, eles atingem uma área do cérebro e fazem com que as pessoas comam cada vez mais, percam controle sobre a quantidade e, consequentemente, sobre a ingestão de calorias.
Quer saber mais sobre esse assunto? Então, continue a leitura!
O que são alimentos hiperpalatáveis?
Alimentos hiperpalatáveis são aqueles que combinam alguns elementos que tornam seu consumo extremamente prazeroso. Assim, grande parte das pessoas têm dificuldade para resistir a eles.
Geralmente, esses elementos estão relacionados a um sabor e uma textura extremamente agradáveis ao paladar devido a uma combinação de ingredientes como gordura, açúcar e sal.
Esses alimentos são meticulosamente projetados pela indústria alimentícia para maximizar o prazer sensorial e estimular o consumo. Eles são desenvolvidos para provocar uma reação semelhante ao vício.
Alguns exemplos de alimentos hiperpalatáveis são salgadinhos, biscoitos, sorvetes, fast food, doces, chocolates, embutidos, comidas congeladas e diversos outros ultraprocessados.
Vale a pena destacar que a natureza não produz alimentos hiperpalatáveis. Portanto, eles são uma invenção humana.
Como os alimentos hiperpalatáveis atuam no cérebro?
Nosso cérebro tem uma região conhecida como centro dopaminérgico. Esta área é responsável pela liberação de dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa.
Assim, sempre que realizamos uma série de ações que nos provocam a sensação de prazer, esta região do cérebro é estimulada.
Alguns exemplos de situações que estimulam esta área são receber um elogio, ouvir músicas que gostamos, praticar exercícios físicos, a atividade sexual, consumir um conteúdo engraçado e assim por diante.
Alimentos hiperpalatáveis, da mesma forma que as drogas, também estimulam os centros dopaminérgicos do cérebro. Portanto, eles fazem com que a sensação de prazer seja maior que a de um alimento natural, normal.
O problema é que, quando comemos esses alimentos, o cérebro sofre uma verdadeira inundação de dopamina, algo extraordinário.
Porém, com o tempo, essas descargas de dopamina constantes fazem com que o cérebro se adapte a esse estímulo, reduzindo a sensibilidade dos receptores desse neurotransmissor.
Portanto, se hoje você se sente feliz com 100 gramas de chocolate, com o tempo, o cérebro deixará de se sentir satisfeito com essa mesma quantidade. Ele pedirá cada vez mais.
Devido a esse mecanismo, os hiperpalatáveis se comportam no cérebro da mesma forma que as drogas, produzindo um comportamento semelhante ao do vício.
Inclusive, diversos estudos relacionam a ação da dopamina no cérebro com a ação da própria cocaína. Ambas liberam dopamina em excesso no núcleo accumbens, uma região importantíssima para o sistema de recompensa.
Desta forma, tanto o usuário de cocaína quanto o consumidor de açúcar são condicionados a buscar a substância de forma repetida para obterem novamente a mesma sensação de prazer.
Em seguida, vem a etapa de sensibilização do sistema de recompensa. Isso significa que, a princípio, o cérebro se torna mais responsivo aos efeitos dessas substâncias.
Finalmente, vêm a etapa de tolerância, ou seja, o cérebro diminui sua resposta ao estímulo (cocaína ou açúcar), fazendo com que a pessoa precise de uma quantidade cada vez maior. Geralmente, é nesta fase que se estabelece a dependência.
Quais são as consequências do consumo de hiperpalatáveis?
As principais consequências do consumo de alimentos hiperpalatáveis são:
Consumo excessivo de calorias
Além de hiperpalatáveis, esses produtos são extremamente calóricos. Então, combinam-se dois fatores: a vontade de consumi-los em maior quantidade e com mais frequência com a quantidade absurda de calorias.
Consequentemente, a pessoa acaba consumindo, facilmente, uma quantidade de calorias muito maior do que seu organismo consegue gastar em um dia de atividades normais.
Apenas como exemplo, você pode comparar o mamão com balas de gelatina. Não falaremos as marcas, mas são aquelas coloridinhas que ficam à venda no mercado, são molinhas e as crianças amam.
Cada porção de 100 gramas de mamão papaya possui 40 calorias, segundo a tabela Taco. A mesma quantidade de balas de gelatina (100g) fornece ao corpo 380 calorias. Percebe como é desproporcional?
Aumento de peso ou desnutrição
Não tem jeito. Se a pessoa consome uma quantidade grande de calorias, ela terá um aumento de peso. Portanto, os hiperpalatáveis estão entre uma das principais causas de obesidade na atualidade.
Por outro lado, existem pessoas que não abrem mão desses produtos, mas não querem engordar. Assim, elas optam por comer uma quantidade muito pequena deles.
O problema, neste caso, é que elas não extrapolam a quantidade diária de calorias, mas acabam não obtendo todos os nutrientes que precisam e sofrem as consequências da desnutrição.
Dessensibilização do paladar
Lembra que os hiperpalatáveis promovem uma “explosão de sabor”? Por isso, quando consumidos com frequência, nosso cérebro passa a achar os alimentos normais, naturais, muito sem-graça.
Assim, a pessoa já não sente o doce do morango, da manga, do kiwi… ela só se “sente” satisfeita quando um hiperpalatável estimula seu cérebro de forma exagerada.
O mesmo princípio vale para alimentos salgados. A batata assada deixa de parecer tão saborosa quanto a batata frita da latinha cilíndrica, e assim por diante.
Portanto, quem está muito habituado a hiperpalatáveis precisa realizar todo um processo para ressensibilizar seu paladar ao gosto natural dos alimentos.
Desenvolvimento de doenças crônicas
Ao ingerir frequentemente alimentos hiperpalatáveis, a pessoa aumenta seus riscos de desenvolver problemas de saúde como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial etc.
Em parte isso se deve ao aumento de peso. Porém, não se restringe a esse fator. Mesmo pessoas magras, mas que consomem alimentos ricos em gordura, sal e açúcar, podem desenvolver essas doenças.
Vamos para um desafio? Abra seu armário e, com essas informações, identifique os alimentos hiperpalatáveis que estão em sua casa.
Será que realmente vale a pena mantê-los por perto? Você consegue resistir a eles? Que tipo de paladar seus filhos formarão se forem expostos a eles com frequência?