Seja em busca da boa forma ou por um diagnóstico de diabetes que impede o consumo normal de açúcar, muitas pessoas passaram a consumir adoçante nos últimos anos.
Os próprios adoçantes e uma esteira de produtos diet ou light passaram a estampar em suas embalagens qualidades muito atrativas: “zero calorias”, “zero açúcar” ou ainda “adoçante natural”.
Diante dessas supostas vantagens, o consumo de adoçantes só aumenta no país. Relatórios da Mordor Intelligence mostram uma taxa de crescimento de praticamente 1% ao ano.
Parece pouco, mas precisamos considerar dois fatores muito importantes. O primeiro é que mesmo as pessoas que não consomem adoçante à mesa compram produtos “saudáveis” que contêm esses edulcorantes.
O mercado de alimentação saudável — que envolve cereais, biscoitos, bebidas, iogurtes e doces, entre outros — apresenta um crescimento médio de 4.41% ao ano.
Além disso, o Brasil é considerado um dos mercados mais promissores para os fabricantes de adoçantes. Isso acontece devido ao crescimento no número de pessoas com sobrepeso, obesidade e diabetes, o que resulta em crescimento nessa categoria.
Portanto, quanto mais obesos e diabéticos um país tiver, mais lucrativa se torna a indústria de adoçantes.
Porém, um estudo publicado em agosto de 2022 colocou a comunidade médica em alerta. Ele aponta que o uso de adoçantes pode não ser inofensivo, como se pensava.
E por incrível que pareça, o público que possivelmente teria mais problemas devido ao efeito dos adoçantes seria justamente o de pessoas com diabetes — em tese, as que seriam mais beneficiadas com o produto.
Ficou interessado em saber mais? Então, continue a leitura!
Afinal, adoçante faz mal?
O estudo não se propõe a responder esta pergunta de forma tão específica. Publicado na revista científica Cell, ele apontou que o uso de edulcorantes (adoçantes) provoca alterações na microbiota intestinal.
Como os adoçantes praticamente não possuem calorias e nem nutrientes, até então muitos membros da comunidade médica e científica acreditavam que eles não causavam nenhum efeito sobre o organismo.
Porém, o novo estudo mostra que isso não é verdade. Eles causam um impacto negativo sobre a nossa microbiota intestinal e, consequentemente, podem afetar nossa saúde física e mental.
Neste estudo, os pesquisadores selecionaram 120 voluntários com uma característica muito específica: eram pessoas que evitavam o consumo de adoçantes.
Este critério é importante porque significa que as alterações que aconteceram em seu intestino ocorreram no período do estudo, e não por usarem outras substâncias antes disso.
No início do estudo, esses participantes fizeram exames que mostravam as condições de sua microbiota intestinal.
Em seguida, os pesquisadores dividiram os voluntários em 6 grupos diferentes: dois grupos não usaram adoçante nenhum por duas semanas, como já não faziam habitualmente.
Cada um dos outros grupos usou um dos seguintes adoçantes durante duas semanas: sucralose, sacarina, aspartame e estévia.
Em nenhum dia os voluntários ultrapassaram a quantidade que o Food and Drug Administration (FDA) americano considera segura. Portanto, não houve exagero no uso de adoçantes.
Ao final das duas semanas, todos os participantes fizeram novos exames que mostravam a composição de sua microbiota intestinal. Então, os pesquisadores compararam o exame antes do estudo com o exame feito após o estudo.
Todos os grupos que consumiram adoçantes tiveram mudanças muito significativas na quantidade e tipos de bactérias presentes na microbiota intestinal, bem como nas moléculas que essas bactérias secretam no sangue.
Os dois grupos que não consumiram adoçantes não tiveram alterações em sua microbiota intestinal nesse período.
Portanto, o estudo conseguiu demonstrar que as bactérias são sensíveis à presença dos adoçantes e respondem a eles produzindo e secretando substâncias para o organismo.
Qual é o impacto dessas alterações para o organismo?
Já sabemos que o adoçante altera a quantidade de bactérias de diferentes colônias do intestino, e tudo isso em um período tão curto.
Portanto, embora o estudo não tenha se estendido por um período maior, ele sugere que o uso prolongado de adoçantes poderia levar a um grande desequilíbrio na microbiota, ou seja, a um quadro de disbiose.
Porém, como já afirmamos, um estudo realizado em um período tão curto não consegue chegar a esta conclusão. Ele teria que se estender por um período maior, embora já ofereça um indicativo importante.
Uma das conclusões mais importantes e preocupantes do estudo afeta diretamente as pessoas com diabetes, ou seja, aquelas que utilizam adoçantes até como recomendação médica.
Segundo a pesquisa, nos grupos que usaram sacarina e sucralose, houve um impacto significativo na tolerância à glicose. Portanto, os exames mostraram um aumento na quantidade de açúcar circulando pela corrente sanguínea.
Este é, exatamente, o quadro que aumenta o risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2. Grande parte do tratamento desta doença consiste em reduzir os níveis de açúcar no sangue, e o adoçante fez exatamente o contrário.
Como os próprios pesquisadores afirmaram, ainda é preciso realizar novos estudos para investigar a fundo o impacto do uso de adoçantes por pessoas com diabetes.
No entanto, esses resultados são suficientes para ficarmos em alerta, não utilizarmos adoçantes como se eles fossem substitutos seguros do açúcar e, se possível, suspendermos o uso até que outras pesquisas esclareçam melhor o assunto.
O estudo mostrou ainda que ocorreram alterações não só na microbiota intestinal, mas também na microbiota oral (da boca). Elas afetaram o desempenho do sistema imunológico e dos receptores do sabor doce e amargo no intestino.
Que conclusões podemos tirar sobre o uso de adoçantes?
Embora seja necessário realizar estudos mais abrangentes, podemos chegar a algumas conclusões:
1. Nada que colocamos em nosso corpo é inócuo
Nada do que consumimos, nem mesmo a água, é inócua. Inclusive, a própria água participa de inúmeros processos e reações do organismo, mas de uma forma positiva.
No caso dos adoçantes, percebemos que eles também não são inócuos. Eles podem não conter calorias e nem açúcar, mas ainda assim afetam os nossos sistemas e têm um impacto maior do que imaginávamos.
2. Natural é só o que é natural e ponto
É impressionante como a indústria alimentícia, de bebidas ou de remédios consegue colocar o rótulo “natural” em produtos artificiais. Desta vez, o estudo nos faz pensar em adoçantes, mas pode se aplicar a muitos outros produtos.
A folha de estévia é natural (e não participou do estudo). Mas se uma indústria pegou, macerou, processou, transformou em cristaizinhos ou em um líquido transparente, deixou de ser natural. Não acredite na propaganda.
Não existe adoçante natural em frascos, não existe biscoito natural que foi industrializado, não existe calmante natural em vidrinhos.
3. Não espere novos estudos para mudar seus hábitos
Diante de um estudo, muitas pessoas pensam: se eu não devo mais usar aspartame, sucralose, sacarina ou estévia, que adoçante devo usar? Xilitol? Eritritol?
A pergunta não é essa. Essa não é a atitude. Esse é o momento de repensar:
- Por que eu preciso adoçar tanto os alimentos?
- Por que eu sinto necessidade de uma substância que não é natural para sentir prazer no sabor dos alimentos?
- O que eu posso fazer para não precisar mais de nada disso?
Esse questionamento nos leva ao próximo tópico.
4. Precisamos reeducar o nosso paladar
Não se trata de um costume exclusivo do Brasil, mas precisamos reconhecer que temos o hábito de exagerar na necessidade de adoçar os alimentos.
A tolerância do nosso paladar ao açúcar é altíssima. Isso significa que nós colocamos muito mais açúcar do que outros povos no chá, no chocolate, no leite, no café e até no suco!
Outro exemplo são os alimentos industrializados. 100 gramas de biscoito recheado possuem, em média, 41 gramas de açúcar (quase a metade da composição). Os mesmos 100 gramas de manga possuem apenas 14 gramas de açúcar.
Precisamos reeducar o nosso paladar para sentirmos novamente o sabor dos alimentos e nos satisfazermos sem esse exagero de açúcar. Aprender a saborear sem precisar adoçar tudo o que chega à nossa frente.
5. Os únicos doces saudáveis são as frutas
Nós precisamos de açúcar, e ele nos traz energia e prazer. Porém, estou falando do açúcar natural das frutas, e não do açúcar refinado (ou do adoçante) que colocamos nos alimentos.
Você já reparou que a natureza não tem nenhum alimento naturalmente salgado? Por outro lado, estima-se que existem mais de 1.400 tipos de frutas no mundo. Ou seja, existe doce à vontade!
O que precisamos fazer é reeducar o nosso paladar (mais uma vez) para aprendermos a desfrutar desses doces saudáveis e obter todos os benefícios que eles nos oferecem.
Agora que você já sabe disso, imagine quantas pessoas consomem adoçantes sem nenhum cuidado por acharem que se trata de uma substância segura.
Então, que tal compartilhar este post com elas? Envie o link pelo seu WhatsApp. Assim, além de as pessoas com as quais você se preocupa terem acesso, você ainda fica com ele salvo para consultar sempre que desejar.
escolhidos foram os sintéticos, sacarina, sucralose e aspartame, e o natural estévia.
“Em indivíduos que consumiram os adoçantes não nutritivos, pudemos identificar mudanças muito distintas na composição e função dos micróbios intestinais e nas moléculas que eles secretam no sangue periférico. Isso parecia sugerir que os micróbios intestinais no corpo humano são bastante responsivos a cada um desses adoçantes. Quando analisamos os consumidores de adoçantes não nutritivos como grupos, descobrimos que dois dos adoçantes não nutritivos, sacarina e sucralose, impactaram significativamente a tolerância à glicose em adultos saudáveis. Curiosamente, as mudanças nos micróbios foram altamente correlacionadas com as alterações observadas nas respostas glicêmi